A PEDRA DO REINO – PERNAMBUCO
Toda
história inicia ainda em com Dom Sebastião que nasce dia 20 de Janeiro em
Lisboa, bem no dia de São Sebastião. O mesmo é era filho de D. João
Manuel, Príncipe de Portugal e de Joana de
Áustria. Descendente
da família real de Portugal no ano de 1554. Sendo este o único Neto homem de D.
João III.
O
menino nasceu 1 mês antes do falecimento do avô o que fez com que ele fosse coroado
a rei aos três anos de idade. Nessa época Portugal passava pelo desafio de ter
uma criança no trono e teria de esperar que ele fosse maior.
Mesmo
assim era melhor esperar do que ficar dependente da Espanha, visto que Portugal
estava em avanço no Brasil, enquanto aqui era ainda o Brasil Colônia.
Dom
Sebastião ficou sob a tutela do cardeal D. Henrique, seu tio-avô paterno, e da
avó, D. Catarina. Obteve educação pelos jesuítas, foi quando despertou nele a
vontade de enfiar o cristianismo goela abaixo.
Dom
Sebastião assumiu o trono aos 14 anos, não tinha interesse de casar, mas seu
objetivo era outro iniciar do projeto de criar um império português no norte da
África para a glória do cristianismo em nome de Cristo.
Solteiro
e sem filhos, sem herdeiro ao trono. ele entra em negociação com o Rei do
Marrocos que negociava com Dom Sebastião de recuperar suas terras em troca da
mudança religiosa Católica.
Foi
assim que ele sai de Portugal comandando a primeira expedição contra o Alcacér
Quibir atualmente Marrocos, no ano de 1574 e numa segunda, à frente de um
exército de mais de 15.000 homens, desembarcando novamente no litoral
marroquino em 1578.
Porém
no dia 4 de Agosto daquele mesmo ano de 1578, os portugueses foram esmagados
pelas forças superiores do sultão. E foi assim que o rei Dom Sebastião desapareceu
misteriosamente em combate, quando tinha apenas 24 anos de idade.
Alguns
dizem que ele desapareceu ainda no deserto como num passe de mágicas.
Até
então não encontraram o corpo do Rei Sebastião o que ficou um mistério diante
das histórias contadas.
A
partir disso a situação não ficou nada agradável para Portugal, foi proclamado
rei o velho cardeal D. Henrique, seu tio, que reinou dois anos.
Depois
o Reino de Portugal foi anexado ao da Espanha sob a regência de Felipe II, que
era viúvo de uma filha de Dom João III, rei de Portugal, avô de Dom Sebastião,
que havia falecido em 1554.
Portugal
ficou sob o jugo da Espanha até 1640, quando readquiriu sua independência,
tendo o início o reinado de Dom João IV, o fundador da dinastia de Bragança.
Porém
desde o desaparecimento de Dom Sebastião em 1578, haviam histórias de que o
mesmo havia sido enfeitiçado no deserto e nunca chegou ao campo de combate de
Alcacér Quibir.
Outros
por sua vez diziam que Dom Sebastião não havia morrido, mas estava em uma ilha
encantada e voltaria para libertar sua pátria e seu povo. Essa lenda perdurou
por três séculos como símbolo do nacionalismo português.
A
crença em seu retorno era tão forte que chegou a fazer com que D. João IV,
antes de ser aclamado (62 anos despois do desaparecimento de “O Desejado”),
tivesse que jurar que entregaria o reino a Dom Sebastião assim que ele voltasse
à sua pátria.
Foi
assim que iniciou o mito sebastianista para a esperança de todos. Sendo que Dom Sebastião sobrevivera e voltaria para
libertar seu povo da Espanha e tudo ficaria bem novamente.
Nesse
período que surgiram alguns livros sobre teoria Sebastianista em Portugal e que
foi ganhando força diante dessa doutrina.
Os
sucessores do trono chegaram a buscar o suposto resto mortal de Dom Sebastião e
manter ele em Portugal, mal acredita-se que tenha feito isso para acabar de vez
com as teorias Sebastianistas.
Mas
não adiantava o povo ainda acreditava que quanto em mais dificuldade Portugal
estivesse é quando Dom Sebastião apareceria e livraria eles para sempre daquela
situação.
E
muito portugueses quando saem de Portugal e vem para colonizar o Brasil trazem
essa história toda do Dom Sebastião. Diziam e possuíam livros sobre isso da
volta dos bons tempos de ouro.
Mas
que quando o Dom Sebastião voltasse todos seriam muito prósperos e tudo que se
pensasse em não conseguir esse rei assim que fosse despertado da magia do
feitiço ele traria as boas novas. E tudo que se pedisse a ele se teria retorno.
Sabe
aquilo que para nossa vida pode ser impossível? Então Dom Sebastião se fosse
libertado daquele feitiço faria esse objetivo se realizar.
Mas
que como o rei precisava voltar a reinar ele escolheria um profeta que seria
usado para quebrar esse feitiço. E foi assim que muitos populares tinham
conhecimento da doutrina Sebastianista. Inclusive na região do nordeste do
Brasil.
O
primeiro deles, diretamente ligado ao evento da Pedra do Reino que ocorreu entre 1835 e 1838, no sertão de
Pernambuco, em região que atualmente pertence ao município de São José de
Belmonte, a 479 quilômetros de Recife.
O
sertão nesse período passava grande dificuldade muito e muito pior que hoje. E
inclusive nesse período a seca castigava ainda mais, devido ao clima atípico.
As
pessoas estavam passando muito dificuldade pra viver, problemas sérios de
saúde, desnutridos eram uma série de fatores que deixava a população
extremamente vulnerável.
É
quando... em 1935...
João
Antônio dos Santos, morador de Villa-Bella, hoje o local fica aos domínios de
São José do Belmonte, nos limites com a Província da Paraíba.
Apesar
de ser de uma família humilde João Antônio ambicioso. Para aquela época onde a
população em sua maioria era analfabeta, o homem se destacava por saber ler e
escrever.
Ele
possuía um velho livreto de cordel, do qual nunca se separava, e que continha
um desses contos de lendas, que relatavam o desaparecimento de Dom Sebastião,
assunto bastante discutido na época.
João
Antônio em sua juventude acabou se apaixonando por uma moça que era filha de um
fazendeiro, que se chamava Maria.
Ela
tinha uma vida confortável e financeiramente estável diferente de João Antônio.
Mas ele corajoso vai até a casa de Maria e pede aos pais dela a sua mão em
casamento.
Os
pais por sua vez negam o pedido, pois ele não tinha mal para se sustentar como
sustentaria de Maria?
Desolado
com o NÃO recebido João Antônio dos Santos, vai até um local chamado mina
encantada onde encontra duas pedrinhas brilhosas, que segundo ele possuíam alto
valor.
E
é justamente nesse local que ele tem uma experiência espiritual.
Surge
o profeta de Dom Sebastião, que por sua vez vai contando as pessoas da região a
revelação que teve, bem como as duas pedras preciosas que ele não largava mais.
Rapidamente
a notícia se espalha, todo mundo contente que ali estava o profeta.
As
pessoas da região sabiam da história de Dom Sebastião. O que ocorria naquele
sertão com o profeta João Antônio que andava com aquele livro do cordel
pregando a promessa era questão de tempo para tudo mudar.
O
profeta por sua vez passa a usar coroa de cipó, algumas pessoas já ouvindo o
que ele dizia se encantava em entrar para a doutrina Sebastianista.
Conseguiu
através da ignorância da população, obter por empréstimo de muitos fazendeiros
do lugar, bois, cavalos, além de boa quantidade de dinheiro, com a condição de
lhes pagar em valores muito mais altos.
Ali
naquele momento ocorria uma espécie de agiotagem, os fazendeiros emprestavam,
pois acreditavam que assim que dom Sebastião voltasse todos teriam prosperidade
e eles receberiam um bom dinheiro.
João
Antônio falava da existência de um grande tesouro, que ele tinha poder e que
estava próximo de ocorrer um evento que beneficiaria a todos que estivessem a
sua volta.
Foi
assim que o homem toma coragem e vai até a casa de Maria, fala com os pais dela
alegando que era um profeta direto do Dom Sebastião.
Os
pais da Maria ouvindo tudo aquilo se alegraram, que maravilha minha filha vai
se casar com o profeta. Afinal tinham conhecimento da promessa de Dom
Sebastião. E foi assim que João Antônio tem sua amada Maria se casando com ela.
Logo
se iniciou um numero de pessoas que seguiam João Antônio e Maria, sendo João
Antônio o Rei e a Maria a Rainha. A promessa da prosperidade estampada na cara
da sociedade. A necessidade e a fé de que a mudança de vida logo chegaria...
Logo
conseguiu um grupo de seguidores, muitos dos quais de sua própria família, que
passaram a ser seus apóstolos. Que por sua vez conseguiam converter mais e mais
pessoas. Na sua maioria pessoas humildes.
O
povo passou a trocar o trabalho honesto para viver de roubo e outros crimes.
Tudo isso para viver uma crença religiosa na esperança de obter os tesouros
prometidos.
Com
um grupo de pessoas já convertidas a doutrina Sebastiana, e cada vez mais
chegando mais fiéis, o rei e rainha continuavam precisando de dinheiro.
Eles
se agrupavam ainda em Villa Bella - São José Belmonte para ouvirem as palavras
do rei que se baseava naquele livro de cordel que ele tinha. João Antônio cada
vez mais respeitado no meio religioso.
Porém
estava ficando difícil permanecer no local para reuniões, era preciso fazer Dom
Sebastião voltar e procurar um local de refúgio onde todos poderiam fazer as
oferendas a ele para que através dos ritos ele voltasse.
Foi
com esse intuito de irem para um local apropriado que João Antônio precisaria
de mais dinheiro, ambicioso e bom de lábia ele contava com os fiéis que cheios
de certeza e esperança ajudariam seu rei a fazer tudo o que fosse necessário.
Inclusive
amedrontar, usar de violência, passar dos limites da agressão contra
fazendeiros e comerciantes para conseguirem dinheiro.
Nessa
fase já não tinha mais aquela lenga lenga de conversa com fazendeiros e comerciantes.
O negócio era pedir uma vez só o dinheiro e estes por sua vez se sentiam
obrigados a dar dinheiro com receio de invasões dos fiéis.
Que
já tão convictos do que queriam que era mais fácil entregar o dinheiro do que
esperar com que tudo acabasse muito mal.
Esses
fiéis não tinham nenhum pouco de dó de acabarem com a vida de comerciantes e
fazendeiros para fazer com que Dom Sebastião voltasse.
Até
que chega o ponto de escolherem um local para se estabilizar sua doutrina, um
santuário. Em 1836 o local foi escolhido em Pedra Bonita, isso porque a
coloração da rocha era dourada.
Na
Serra do Catolé, em São José do Belmonte, no estado do Pernambuco. É o local
onde está localizada A Pedra do Reino ou Pedra Bonita. Ambas a pedras
paralelas, possuem formato de torres, uma com altura de 30 metros e outra com 33
metros.
As
duas pedras representavam duas torres do castelo. Digno de rei.
E
o que era Pedra Bonita passou a se chamar Pedra do Reino. Ou seja, onde ficaria
o Rei e a Rainha. Bem como dezenas de pessoas que se estabeleceram no local
para seguir ao Rei.
Passaram
a morar no local João Antônio, Maria, dezenas de pessoas e isso incluía a
família do rei e rainha que haviam se convertido a Sebastianismo.
A
realidade das pessoas era dura demais, esse grupo atendia todo tipo de pessoa,
raça, gênero, condições financeiras. Cada um buscava um ideal de vida.
Algumas
dessas pessoas estavam ali para alcançarem a beleza que desejavam, outras para
melhorar o financeiro, conseguir casar, mudar
de cor de pele, ter entendimento de ler e escrever. Bem como algumas desejavam
cura.
Como
João Antônio dizia que se fizessem tudo certo dentro da doutrina e libertando
Dom Sebastião tudo era possível, TUDO!
A
Pedra do Reino se tornou praticamente um santuário a céu aberto, por isso
precisava ser organizado. Desde a alimentação até a higiene. E ambas as coisas
eram feitas somente de vez enquanto.
Os
sacramentos como batismo, casamento, funeral era feito pelo padre Francisco
Correia. Mas dentro daquela comunidade ali instalada a figura de autoridade era
João Antônio e Maria.
E
todos deveriam seguir suas ordens e fazer tudo que lhes era solicitado, quando
por acaso se recusasse a fazer o que as autoridades pediam eram castigados.
Amarrados pelo pescoço que acabavam perdendo suas vidas.
O
reino comandado por João Antônio levou em torno de 1 ano, do qual pessoas da
região se sentiam incomodadas, principalmente a própria igreja.
Já
que o comércio e fazendeiros de certa forma ajudaram mais a seita do que a
própria igreja. Os fazendeiros viviam com medo de serem invadidos pelos
fanáticos e toda população da região enlouquecida para encontrar tesouros assim
como João Antônio encontrou as duas pedras brilhantes.
Foi
essa série de fatores que fez com que o padre Francisco Correia, fosse até o
local para acabar com aquilo que estava ocorrendo na Pedra do Reino da Serra do
Catolé.
Chegando
no local deu um sermão que a prosperidade teria de vir através de um povo
honesto e trabalhador, o padre acompanhado de demais homens pressionou tanto a
ponto de João Antônio entregar-lhe as duas pedras, que nada tinham a ver com
brilhantes.
Foi
assim que João Antônio prometeu ao padre que iria sair do lugar. Ao retirar-se
João Antônio disse aos seus discípulos que iria recrutar mais gente em outros
lugares para o reino de Dom Sebastião.
Passou
a coroa de cipó a seu cunhado, casado com sua irmã o João Ferreira, que passou
a ser o novo rei da Pedra Bonita ou Pedra do Reino.
E
assim que faz o anuncio sai do local junto a esposa imediatamente dirigindo-se
para as bandas do Rio do Peixe, e dali para os Inhamuns.
O
padre e demais que o acompanhavam tiveram certeza que aquele seria o fim do fim
do sebastianismo no sertão pernambucano, gerou uma crença ainda mais forte.
O
novo Rei João Ferreira dizia ter visões de Dom Sebastião e intensificou a
divulgação da profecia. Era carismático. Tornou-se muito popular e aumentou o
número de seguidores para 300 fiéis.
E
aquele tanto de gente fazia questão de beijar seus pés. Decidiu instalar sua
corte junto às duas grandes rochas da Pedra Bonita, que seria o local dos
rituais de desencantamento.
A
seita passou a ter uma ritualística mais severa, com ordens mais minuciosa e
que todos deveriam respeitar e obedecer.
Os
costumes fugiam da regra social, tinham leis próprias, rituais próprios, higiene
limitada, ou seja, os banhos eram cada vez mais raros, sem acesso a saúde,
jejuavam por vários dias.
Faziam
nesses rituais o consumo de uma bebida altamente potente, considerada uma de
bebida alucinógena, mistura de jurema com manacá que o Rei João Ferreira
chamava de vinho santo. Nesses momentos do rito as pessoas ficavam bastante
vulneráveis.
Afinal
as pessoas sem comer, estavam fracas. E foi durante essas fraquezas que esse
reino passa a ter um novo costume que seria a noite de núpcias. Quando ocorria
o casamento na comunidade quem dormiria com a noiva na primeira noite era o
próprio João Ferreira, não o noivo.
Noivo
nunca, ele só iria ter sua amada depois do João Ferreira. Mas sabe porque ele
dormia com as noivas? Porque assim o dom Sebastião teria seu feitiço quebrado.
Sendo
assim a esposa concordava, bem como as noivas e noivos.
Inclusive
o próprio rei que escolhia quem iria casar com quem, ele fazia os pares. Ele
como atual profeta, aquele que Dom Sebastião se apossaria do corpo e falava com
ele diretamente.
Segundo
João Ferreira, havia uma forma de quebrar o feitiço para que Dom Sebastião
voltasse... Bastava simplesmente lavar a Pedra Bonita, a Pedra do Reino aquelas
duas pedras gigantes com sangue.
A
princípio as pessoas passaram a sacrificar animais, o local que já não cheirava
bem foi ficando pior, pois a decomposição dos animais seguia acontecendo e eles
deixavam tudo na pedra a céu aberto.
Algumas
pessoas nesse período tentavam sair do local, mas eram proibidas, algumas
tentavam fugir, mas erma raptadas, o restante da sociedade não tinha
conhecimento que a seita ainda continuava.
Sair
do local era tarefa quase impossível, afinal as que tentavam fugir eram mortas
estranguladas. Bem como quem não obedecesse às ordens do rei eram enforcadas.
O
mal cheiro tomava conta do lugar, as pessoas cada vez mais magras e raquíticas,
sem higiene levando uma vida nada saudável. E ao mesmo tempo sem ter como
voltar atrás. Já haviam perdido totalmente a noção da realidade.
Ao
mesmo tempo continuavam a chegar cada vez mais pessoas adeptas a entrar na
seita e uma delas é figura muito importante na história. Um vaqueiro que
trabalhava em uma fazenda do major Manoel Pereira
O
vaqueiro José Gomes foi convencido pelo tio a deixar de ser empregado naquela
fazenda e ir para Serra do Catolé em busca dos tesouros prometidos.
Bem
e as coisas até que funcionaram conforme ele esperava por um tempo, afinal ele
servia o vinho santo.
As
pessoas naquele momento de reflexão interna, ouviam as pregações de João
Ferreira que falava em cima de uma pedra que ficava mais alta, usada como
palco.
Ali
ele explicava quantas coisas maravilhosas ocorreriam na vida deles a partir da
volta do Dom Sebastião, todos viveriam ricamente, seria um local onde não
haveria doenças, nem pessoas feias, comida em abundância, muito ouro.
Praticamente
seria o céu sonhado por tantas pessoas. Mas para isso a Pedra de 33 metros e a
outra de 30 precisariam ser lavadas de sangue. Mas os que gostariam de ajudar
fazendo o sacrifício não precisavam ter medo.
Pois
depois de se matarem, assim que Dom Sebastião os voltasse viveriam novamente,
porém com tudo pronto, vivendo no paraíso. E os fiéis por sua vez, sob efeito
do vinho santo se prontificavam a morrer para banhar a pedra.
E
foi assim que muitas e muitas pessoas perderam suas vidas.
Dia
14 de maio 1838 passou a ocorrer um massacre ainda pior, enlouquecedor e
lamentável. Naquela noite João Ferreira forneceu aos que restaram vinho santo.
Em
cima da rocha que servia como palco João Ferreira declarou que Dom Sebastião
estava muito desgostoso com os seus seguidores, por serem incrédulos, fracos e
falsos.
Porque
não estavam regando o campo encantado, e não lavando as duas torres da catedral
do seu reino (as duas rochas) com o sangue necessário para quebrar de uma vez o
cruel encantamento.
Totalmente
fora de sí ao ouvir aquilo um senhor chamado Juca, correu, abraçou-se com as
pedras e entregou o pescoço a um outro fiel que o cortou com um facão.
Assim
foram mortos muitos homens, mulheres, crianças e irracionais. Os pescoços eram
cortados e as cabeças eram quebradas. O sangue que jorrava era aproveitado para
esfregar nas pedras.
Os
sacrifícios continuaram no dia seguinte dia 15 de maio. Algumas pessoas não
queriam se auto sacrificar, portanto eram pegadas a força pelos demais fiéis.
Dia
16 continuou a terrível situação, quando chegou de tardinha no enlouquecedor
lugar. O rei João Ferreira conseguiu lavar as bases das duas torres, ou seja,
das duas pedras.
Inundou
a terra com o sangue de 30 crianças, 12 homens, 11 mulheres e 14 cachorros.
Os
corpos iam sendo colocados ao pé das pedras em grupos separados, um continha só
homens, outro grupo só mulheres, crianças, animais.
No
dia 17 de maio, em total desespero o vaqueiro Jose Gomes foge do local.
O
Comissário Major Manoel Pereira da Silva, estava em sua Fazenda Belém na
chuvosa manhã do dia 17 de maio de 1838, em companhia dos irmãos Alexandre e
Cipriano.
Os
três conversavam a respeito do abandono em que se encontravam os gados da sua
fazenda Caiçara, desde o desaparecimento do vaqueiro José Gomes, já faziam 20
dias que ele nem dava sinal.
Em
torno das 10 da manhã, quem aparece na casa do Major é o próprio vaqueiro José
Gomes, desesperado conta aos três irmãos detalhadamente de todos os
acontecimentos.
O
Comissário Manoel Pereira, avaliando mal o perigo a que poderia expô-lo uma
ação precipitada, sem requisitar a força pública que se achava a 15 léguas de
distância, e sem mesmo recorrer aos seus numerosos amigos e irmãos que residiam
mais afastado.
O
Major reúne os vizinhos moradores da região, fazendeiros pedindo ajuda para
combater a seita.
Simplício
Pereira da Silva, iria encontrar o grupo nas imediações de Serra do Catolé; os irmãos,
Alexandre e Cipriano, queriam ir a todo custo pois souberam que os
sebastianistas estavam planejando atacar suas casas e fazendas.
Resolveu
partir no dia seguinte.
Naquele
mesmo dia Pedro Antônio, cunhado de João
Ferreira ainda inconformado com a trágica morte da irmã usa de sua sagacidade
em meio aquele surto coletivo.
Pedro
Antônio que também era irmão do primeiro rei, João Antônio. Subiu na pedra que
servia como parco, no trono do rei. E grita a todos que Dom Sebastião apareceu
para ele.
E
que reclamava a presença do rei, única vítima que faltava para se operar o seu
completo desencantamento. Os fiéis que não pensaram duas vezes, deram fim em
João Ferreira que não teve tempo nem para correr do local.
Com
o João Ferreira morto, os fiéis proclamaram Pedro Antônio novo rei, terceiro rei da Pedra do Reino.
Dia
18 de Maio de 1838 bem cedo o Major junto como os dois irmãos e à frente de 26
paisanos bem montados, armados e dispostos, já marchavam para a Serra do Catolé.
No
caminho, receberam apoio de mais nove cavaleiros. Andaram depressa e, por volta
de uma hora da tarde, já se achavam no pé da Serra Formosa, no lugar denominado
Gameleira, cinco léguas de distância da Fazenda Belém, e uma, no máximo, da
Pedra Bonita.
Descansaram
um pouco e seguiram a caminho do destino final (a Pedra Bonita). Os dois
irmãos, Alexandre e Cipriano, com poucos soldados que os seguiam, ao
aproximarem-se de uns fiéis avistaram Pedro Antônio.
O
rei estava rodeado de mulheres de mulheres, meninos e de homens, armados de
facões e cacetes.
O
combate iniciou com os gritos:
Viva
o Rei Dom Sebastião, os fiéis combateram os cavaleiros numa luta a corporal. De
um lado os Sebastianistas que possuíam facão nas mãos e outros nada,
enfrentavam corajosamente os homens armados liderados pelo Major Manoel Pereira
da Silva.
A
luta foi desigual, passou a ser corpo a corpo, quando as espingardas usadas uma
única vez, não dava tempo de recarregar.
O
cenário que se seguiu à luta foi dos mais horrendas. Havia 22 cadáveres sobre o
campo de combate, incluindo o do próprio rei Pedro Antônio que morreu pelas
mãos dos próprios fanáticos que o golpearam 16 vezes com faca.
Os
irmãos Cipriano e Alexandre Pereira, com mais três dos seus companheiros, também
morreram. Além de muitos feridos de ambos os lados, dentre esses o próprio Major.
Os
sebastianistas fugitivos tiveram outro encontro minutos depois, com o Capitão
Simplício Pereira da Silva e sua força, recentemente chegada.
Mais
8 pessoas da seita perderam suas vidas. Os que sobreviveram foram conduzidos
presos para a Fazenda Belém, sob as ordens do Comissário Manoel Pereira da
Silva, de onde foram posteriormente encaminhados a Fortaleza.
O
massacre só terminou em 18 de maio, após o major Manoel Pereira da Silva ter
intervindo e atacado o reino com sua tropa. No ataque, morreram fanáticos e
soldados, inclusive 2 irmãos do major.
João
Antônio, o primeiro líder da seita, foi capturado em Minas Gerais e morto no
caminho a Pernambuco, sua esposa Maria fugiu para Santa Catarina, tendo
recebido um indulto do então presidente da província, o Conde da Boa Vista.
Passados
os 2 meses do massacre o padre Francisco Correia foi até o local e sepultou os
corpos das vítimas. Alertando a toda população que o local estava amaldiçoado,
fez isso com intuito de acabar de vez com alguma fé que restava de alguém.
O
padre ainda fez um desenho do cenário que encontrou, para servir de alerta à
população, que atualmente se encontra preservado no acervo do Instituto
Arqueológico, Histórico e Geográfico de Pernambuco.
Lá
se erguem dois pináculos rochosos paralelos, com cerca de cinco metros de
altura, incrustados de minérios que refletem a luz do Sol.
A
Pedra do Reino e o movimento sebastianista que lá ocorreu serviram de
inspiração a diversos movimentos e produções culturais.
A
história do massacre foi documentada pelo historiador Attico Leite em seu livro
Fanatismo Religioso: Memória Sobre o Reino Encantado na Comarca de Vila Bella.
Ainda
em 1878, o escritor Araripe Júnior lançou "O Reino Encantado: Chronica
Sebastianista".
Em
1938, o escritor José Lins do Rego lançou o "Pedra Bonita", romance
inspirado no movimento sebastianista da Pedra do Reino.
Em
1971, Ariano Suassuna lançou O Romance d'A Pedra do Reino e o Príncipe do
Sangue do Vai-e-Volta inaugurando o movimento armorial.
A
obra ainda serviu de inspiração à minissérie da Rede Globo "A Pedra do
Reino".
Anualmente,
no mês de maio, acontece na cidade de São José do Belmonte a Cavalgada à Pedra
do Reino, festa inspirada no movimento armorial de Ariano Suassuna que conta
com diversas manifestações da cultura popular, inclusive a carvalhada, e que se
encerra com uma cavalgada até a Pedra do Reino.
E
eu encerro esse vídeo deixando a vocês esse trecho de música que faz parte
dessa história.
Um
forte abraço e que o universo nos abençoe.
Referências:
https://familiapereira.net.br/historia-pedra-do-reino/
https://www.youtube.com/watch?v=Wprz3qpX5B8
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